domingo, 26 de junho de 2011

Sem gelo, por favor!

Eu poderia ter encontrado Gutierrez num bar qualquer de Havana. Talvez encostado num canto, observando as belas mulatas da cidade que ali se mostravam aos machos de plantão. Talvez com um cigarro na mão esquerda – ou quem sabe um charuto – e um copo de rum barato na direita. Talvez estivesse em Havana, talvez em Matanzas.

Mas eu encontrei Gutierrez num encarte de CD. Não tinha Noção de Nada, que veio de longe, e mesmo sendo bem bonito, pouco foi notado. Duvido que você tenha escutado este mesmo disco. Duvido que você tenha encontrado Gutierrez neste mesmo lugar que eu o encontrei.

O certo é que desde aquele dia eu nunca mais o abandonei. O vi muitas vezes, como quem vê um amigo bem próximo. E confesso que em certos momentos me cansei da sua conversa furada sobre sexo, rum e pobreza. Encheu o saco, mas jamais duvidei de cada palavra dita por ele.

E depois daquele dia, passei a encontrar muitos outros. Bukowski, Fante, Millôr, Mutarelli e até o Torero. São tantos caras, tantas conversas, que corro o sério risco de esquecer alguém. Me perdoem aqueles que não citei aqui.

E o bom de tudo isso é que, de certa forma, todos eles permanecem comigo. Estão como Gutierrez, bem próximos, ordenados até pelo nome pra não confundir ninguém.

Estão todos na minha pequena biblioteca. Ou te olhando bem ao alto desta singela página.

terça-feira, 21 de junho de 2011

O assassino e a Coca-Cola

Duas notinhas sobre publicidade:

Coca-Cola

A Coca-Cola está usando uma velha tática para anunciar seus produtos. Na década de 80/90 era comum as indústrias de tabaco usarem os filmes como um meio de publicidade subliminar. Hoje em dia a famosa marca de refrigerantes usa músicas de artistas comerciais, que tocam repetidamente nas inúmeras rádios comerciais, para difundir seu nome.

Alexandre Pires, na música “Sissi” canta:
“Ela se acha a última coca-cola do deserto
A bunda mais linda do pagode esperto...”.

Já o sertanejo Rick – daquela duplinha Rick & Renner -, na música “Vem Camila!” canta:
E num bar na estrada
Coca Cola bem gelada...

Se isso não é publicidade, eu jogo fora meu diploma que eu ainda nem busquei. E o povão vai no embalo da canção.

Venda de munição

No último sábado o Jornal O Liberal publicou, em seu caderno supostamente de cultura, um anúncio de venda de munição para armas de fogo de uma loja daqui de Americana.

Em tempos que se fala tanto em desarmamento, tragédias, chacinas por todos os cantos do país, chega a ser curioso ver um jornal do tamanho do O Liberal se rendendo a este tipo de anúncio.

Tudo por dinheiro?

Meio de comunicação é muito mais que um balcão de anúncios. Pelo menos é o que eu penso.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Cenas do cotidiano

Hoje vi uma cena lindíssima. Realmente tocante, daquelas que nos fazem olhar para o futuro e enxergar algo "bem bom".

Um cavalo perdido, na avenida Nossa Senhora de Fátima, invadiu a pista. Talvez tivesse seus motivos pra fugir, ou simplesmente achou um buraco na cerca e escapou pra ver "qualé que era" desse mundo. Vários motoristas pararam os carros, acenderam os sinais de alerta, desceram de seus veículos e ajudaram o pobre bicho a voltar para o seu lugar. Lindo, de verdade.

Agora só falta fazerem o mesmo com os moradores de rua, com as crianças que são jogadas nos semáforos, entre outros. Só falta isso.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Sobre bicicletas & nossa modernidade assassina

A morte de Antônio Bertolucci, ontem em São Paulo, só trouxe à tona uma velha discussão que nunca foi levada à sério por quase ninguém.

Empresário reconhecido – acionista da empresa de duchas Lorenzetti – foi atropelado por um ônibus enquanto passeava com sua bicicleta pela cidade, morrendo logo após ter sido socorrido.

Não é de hoje que os motoristas não respeitam ciclistas nem pedestres. A falta de educação é uma das poucas leis que impera no trânsito do nosso país. Somado a isso, temos uma “cultura do carro”, que é difundida com toda força pelo Governo, pelos meios de comunicação e que ganham cada vez mais seguidores dentro da sociedade.

A questão não é ser utópico, e achar que todos só devem andar a pé ou pedalando suas bicicletas. O carro também é um meio de transporte, que deve ser usado, mas de maniera consciente.

Lembro que passei boa parte da minha infância sentado numa bicicleta. Qualquer lugar que eu precisasse ir, a Caloi Verdinha me levava/acompanhava, sem reclamar. Hoje bicicleta é artigo de luxo, visto que se você quiser ter uma bicicleta minimamente confortável pra pedalar paga uma pequena fortuna. Além disso, temos pais com pensamentos modernos demais, onde trocam os antigos brinquedos por “motinhas motorizadas” para as crianças, onde estragam a formação das mesmas, mas demonstram todo seu poder econômico na vizinhança.

Americana, por exemplo, não possui ciclovias. Também não vejo por parte do Governo – seja ele Municipal, Estadual ou Federal – incentivos para que a população pratique atividades esportivas, auxiliando indústrias que fabricam não só bicicletas, mas qualquer outro produto usado em qualquer modalidade esportiva. Para a indústria automotiva eles só faltam dar o c*. E a desculpa pra isso é sempre a mesma.

Ninguém precisa de um carro pra ir até a padaria, à banca de jornais e revistas, ou pra visitar a vovó que mora no bairro vizinho. Nós precisamos de carro pra viajar, ir até o casamento do fulano ou levar alguém que passa mal ao médico. Sem radicalismos.

Diante disso, continuamos não só a conviver com fatos como este do atropelamento, mas a formar cada vez mais motoristas impacientes, estressados e burros. Até porque, uma pessoa a pé ou de bicicleta, vai sempre representar um carro a menos nas ruas. Mas isso eles são incapazes de perceber.

sábado, 11 de junho de 2011

A estranha calculadora do Bob's


Não é de hoje que as redes de fast-food nos roubam.

Tudo começa com aquela foto gigante no luminoso, com um lanche que aos olhos parece ser delicioso, suculento. Quando abrimos a caixinha de papelão, é uma decepção. Um lanchinho miserável, todo torto, digno de levar desaforo pra casa.

Mas agora eles estão inovando. Além da enganação no tamanho do lanche - que eu como publicitário sei que existe em todo lugar -, querem nos roubar no preço.

No Bob´s é assim: você compra um Big Bob - que é o Big Mc deles - e paga R$4,75. A batata frita média custa R$4,70 e o refrigerante médio - daqueles horríveis, de máquina - custa R$4,00, totalizando R$13,45.

Mas aí você vacila, o atendente te pergunta se tudo aquilo que você pediu é o tal do "combo", e você, ingenuamente, diz que sim, e eles te cobram R$15,20.

Ou seja, você compra os mesmos produtos por preços totalmente diferentes. E isso porque o "combo" que eles falam serve exatamente pra baratear todos esses produtos quando comprados juntos. Boa a calculadora deles, não?

Foi isso que aconteceu na noite de ontem. Questionado sobre isso, o atendente, magicamente, me sugeriu pagar R$4,75 pelo lanche, R$4,00 pelo refrigerante e a batata, que antes era R$4,70, passou a custar R$1,75. Olha que maravilha!

E diante disso tudo, quantos desavisados ou destraídos passaram por ali e deixaram 2 reais a mais por cada lanche comprado? E que fique claro que não é questão de "mendigar" esse valor. A questão é que esses caras - e muitos outros - tratam os clientes como trouxas. E pelo visto, conseguem fazer bem seu trabalho.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mulheres solteiras


Ah! Essas mulheres solteiras...

Que são solteiras não por opção, mas por terem sido sutilmente ironizadas pelo destino.

Que passam a tarde de sábado no salão de beleza, arrumando seus raivosos cabelos, pintando as compridas unhas, fazendo aquela depilação digna de Forças Armadas. Tudo pra desfilar na madrugada, num bar qualquer da cidade à procura da sua caça.

Que enfrentam as noites de outono/inverno com mini-saias dignas do verão senegalês, de tão curtas que são. E longe de mim achar que isso é um truque para atrair a presa.

Que fazem pose para as fotos, e se ninguém notar, pedem para o garçom bater a foto, apenas para dar uma piscadinha para o mesmo.

Que só querem um colo, um cobertor de orelha digno ou simplesmente um canalha de ocasião.

Que não precisam de nada disso. Que não precisam apelar dessa maneira, já que elas demonstram o quanto estão desesperadas agindo assim.

Que não são exceção, nem deveriam ser a regra.

Que precisariam ser apenas mulheres.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

On the road

(...) e eu me arrastava na mesma direção como tenho feito em toda minha vida, sempre rastejando atrás de pessoas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações em cujo centro fervilhante - pop! - pode-se ver um brilho azul e intenso (...)

Trecho do livro On the road, de Jack Kerouac