domingo, 29 de maio de 2011

Fico pensando como

Por Xico Sá

Como ela vem. Como está sendo o seu banho exatamente agora. Como está cheirosa, mas que sue um tiquinho no caminho para dosar na conta, nossa! Como ela se olha no espelho na hora de se trocar. Como. Como ela fez o barulhinho do elástico da calcinha, pleft, a mais linda onomatopeia das moças. E nas vitrines da rua, como será aquela rápida mirada, extrato para simples conferência demasiadamente feminina. 

Como ela brigou com o cabelo hoje, porque em alguns dias os cabelos teimam em desobedecer às mulheres, sejam elas como forem. Como enfiou a colher no papaia logo cedo antes de todas as acontecências. Como ela blasfemou contra o universo. Como ela disse ao teléfono "ai mãe, não se preocupa, eu já estou grandinha". 

Como os homens a olharam no percurso, que os homens do andaime não assobiem um "gostosa" hiperbólico, sob pena se achar cheinha deveras, mas que assobiem alguma coisa, que não pequem por omissões - ah, não, são homens de verdade, não trabalham com elipses.

Como ela deu aquela ajeitadinha nos peitos, agora já recuando para o começo das ações, o espelho. Como ela roçou um lábio no outro para corrigir o batom e dosar na maldade. Como ela decidiu por sandálias e não por sapatos ou tênis. Como ela pôs o rosto na janela para ouvir o homem do tempo.

Como ela deu aquele saltinho na rua de moça feliz por hoje.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Gente que faz festa

O lugar estava impecavelmente decorado. Muito luxo para uma simples noite de terça-feira. O motivo era nobre – o lançamento do livro “Memória viva de Americana”, de Juarez Godoy – mas não precisava de tudo aquilo.

Muita gente rica. Gente que provavelmente é muito rica, fazendo poses para fotos, mostrando suas roupas caríssimas. Riam continuamente, quase todos, como se a vida fosse uma grande festa. Talvez até fosse naquele momento. E enquanto o garçom servia taças de champagne para os convidados – não me pergunte se era francesa ou não porque eu não sei -, eu observava tudo, mesmo sem estar num canto isolado. Eu fazia parte daquilo, mesmo sem ter um puto no bolso. Ali só era preciso ter pose, dar a entender que a conta bancária estava abarrotada. Isso eu sabia fazer como muitos naquele salão.

O preço do livro fazia jus ao evento. 135 reais não é pra qualquer um, definitivamente. História cara essa da minha cidade, que segundo eles, teve muita ajuda da Prefeitura. Pena que poucos americanenses poderão adquirir a obra. Se bem que eu desconfio que ela não foi feita para os americanenses, pelo menos os de pouco dinheiro e que são a maioria.

Mas o que mais chamou a atenção é que toda aquela gente chique da cidade não aparece no livro. Contando a história através de fotografias, Juarez Godoy deve ter se esquecido de registrar a alta sociedade. O livro nos mostra pontos históricos, como as igrejas e o Casarão do Salto Grande, pessoas pulando o carnaval em diversas épocas, rodas de samba nos bares da cidade entre outras situações. Se algum rico apareceu em alguma foto, foi no meio da multidão, sendo apenas mais um naquele meio.

Mas e os jantares dessa gente que ali estava? E os cordões de ouro das mulheres chiques e enganadas? E os carros importados dos homens ditos poderosos que se escondem atrás de muros tão altos quanto os de Berlim? Nada disso está lá dentro. Até porque essa gente nunca se entregou a nada que não fosse o dinheiro.

Os ricos fazem a festa, fingem se divertir e comemoram um feito que jamais serão deles. O dinheiro deles pode comprar quase tudo – e nesse caso podemos incluir a felicidade de uma noite regada a champagne – mas jamais estarão presentes na história de uma cidade, seja ela qual for. Exceto o prefeito, que cumprimentava freneticamente quem encontrasse pela frente, mas este é por motivos óbvios.

Aposto que todos deixaram o sorriso ali, naquele salão, assim que saíram pela porta principal cheia de seguranças engravatados. E assim foram apavorados para casa, com medo de bandidos, ou entristecidos por terem a certeza de que verão suas velhas esposas como elas realmente são.

Mesmo assim foi uma noite histórica. Para um documento histórico, e não para uma gente que não tem história nenhuma pra contar.

domingo, 22 de maio de 2011

Walk

Não é preciso muito. Apenas um cd - cd mesmo, e não pen drive - uma vitrola moderna e um pedaço de papel. É o que basta para se ter uma idéia, para construirmos um argumento sabe-se lá para quem ler.

Coloque o cd na vitrola. De preferência comece a escutá-lo de trás pra frente. Pode parecer estranho, mas pra quem só lê revistas dessa maneira é mais do que normal.

Walk. Tem uma energia boa, uma pegada. Bom pra começar bem o domingo de manhã que nasceu bem cedo, quase no sábado. Ela faz lembrar coisas boas, como amigos, voltas pela cidade e uma cerveja e outra que sempre acompanha um bom papo.

Se isso não for capaz de te inspirar, esquece. Não te resta outra coisa senão voltar a dormir.

domingo, 15 de maio de 2011

Canção de exílio

"O que ficou pra trás, não deve te prender
Impossível alcançar, pois não existe mais
O que você ganhou, o que você perdeu
São mais do que lições".

Exilio - Dead Fish

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Comeu, pagou e não gostou


Podem me chamar de pobre, cretino, sem classe. Podem me julgar da maneira que acharem melhor. Mas nada, absolutamente nada do que você disser vai me convencer de que a chamada “alta gastronomia” é necessária ou representa alguma coisa de valor na nossa sociedade.

Dias atrás fui pra São Paulo com mais um monte de gente. Era praticamente uma excursão, mesmo que para alguns aquilo fosse trabalho em pleno sábado de sol, o que óbviamente não era meu caso. Eu estava ali pra passear, observar, curtir o dia.

Até que chegou a hora do almoço. Pra quem estava desde o dia anterior sem comer nada, já estava mais do que na hora de agradar o estômago. E de comum acordo – até porque a “excursão” era bancada pela empresa – entramos num restaurante chique da Alameda Lorena, nos Jardins.

Tudo muito fino, muito fresco, com o ar condicionado resfriando mais do que deveria, e um cardápio muito confuso. Não que eu seja escroto, mas as opções se baseavam em macarrão, carne de porco e frango, que obviamente ganhavam nomes como “carne suína”, “galeto” e “massas artesanais”. O preço é que não era diferente do que eu imaginava. Mais de 60 reais num prato com macarrão e frango, que convenhamos era muito bom, mais 5 reais de uma lata de Coca-cola e mais 10% de tudo isso, lógico.

Por mais ignorante que eu seja, eu sei que ali os produtos eram de qualidade. Sei que tem a mão de um cara que estudou pra fazer aquilo, que entende de gastronomia. Mas na verdade, na nossa realidade não só econômica, mas humana, quanto vale um prato de macarrão com frango?

Eu sei que ali estão em jogo diversos fatores. O prato em questão era o mais barato do restaurante, que tinha opções infinitamente mais caras. Sei também que o lugar é diferenciado, de alto valor e que um monte de gente faz questão de pagar por isso.

Não é demagogia, mas ver a conta no fim do almoço – cerca de 12 pessoas - e ter a certeza de que aquele valor era suficiente para 2 famílias de 4 pessoas comprarem todos os alimentos básicos do mês é no mínimo instigante.

Até onde vai a nossa luxúria? E a nossa gula? O que pessoas que freqüentam continuamente esses estabelecimentos pensam em relação ao mundo em que vivemos? (Até já sei a resposta).

Não é julgar, apontar o dedo. É simplesmente olhar, raciocinar e saber pra onde estamos indo com um pensamento assim.

Um bom almoço não precisa combinar com um preço exorbitante. Até porque, por mais que a gente se acostume a se esbaldar na “alta gastronomia”, a comida da mamãe sempre vai ser a melhor do mundo. E geralmente os ingredientes não são nada exóticos. Será que esses “ricaços”, por terem inúmeras empregadas em casa, nunca experimentaram uma boa comida da mamãe? Se for, é mais um motivo pra que eu discorde de todos eles.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

10% de discórdia

Fiz uma pesquisa com assuntos aleatórios. As pessoas também eram aleatórias, escolhidas à dedo pelo meu próprio dedo que não é de apontar ninguém. Pelo menos é o que ele diz, com seus gestos suspeitos.

E a pesquisa é reveladora. De tantos assuntos, de tantas discussões, descobri que apenas 10% das pessoas acreditam que os 10% da conta do restaurante são destinados aos garçons. Desses 10%, apenas 10% acreditam que 100% dos 10% vão para os garçons. Os outros 90%, acreditam que apenas 10% dos 10% vão para os garçons.

Confuso, pra dizer o mínimo. Mesmo que seja apenas 10%.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Pós-operatório

Desse jeito ninguém me leva a sério. Nem meu patrão, que riu dos 9 dias prescritos no atestado médico.

“É frescura!”; “Ah, pára de viadagem!”. Calorosas palavras de carinho, apoio. É tudo o que eu precisava no momento.

E eu que odeio chinelos, tenho que fazer deles o meu “uniforme” de trabalho, calçados com uma calça qualquer encontrada às pressas, o que deixa o visual ainda mais ridículo. Seria pior se fosse um Rider. Seria bem pior se eu gostasse de vestir regata.

Talvez eu não esteja tão mal assim. Uma unha encravada operada não faz sofrer tanto assim.

Faço jus aos elogios acima.

domingo, 1 de maio de 2011

Quem disse que futebol não é cultura?


Humildade é coisa que os portugueses não trouxeram pra cá na época do descobrimento. E aquela “nossa regra” de que tudo o que plantamos nasce com facilidade foi mais uma vez ignorada. Afinal, não vi humildade brotar em nenhum campo por aqui.

Não quero falar a respeito da nossa cultura. Da nossa “contra cultura” de valorizar o que é errado. Mas o vídeo abaixo, se fosse levado a sério, poderia nos mostrar basicamente duas coisas extremamente importantes e que fere nosso orgulho verde e amarelo.

A primeira delas é como a educação e o respeito fazem de um pequeno país uma potência. Não econômica, mas humana. Como é bonito ver um povo que sabe respeitar o já surrado “um minuto de silêncio” numa praça esportiva após uma tragédia. Nesse caso, trata-se do Japão.

A segunda é que o Brasil pode até ter sido o país do futebol em outros tempos, mas hoje não é mais. Futebol não se faz apenas com jogadores talentosos, mas também com torcedores que saibam o real significado de torcer.

“Perca” 3 minutos e 6 segundos do seu tempo e veja coisas que não vemos por aqui há tempos.