quarta-feira, 25 de maio de 2011

Gente que faz festa

O lugar estava impecavelmente decorado. Muito luxo para uma simples noite de terça-feira. O motivo era nobre – o lançamento do livro “Memória viva de Americana”, de Juarez Godoy – mas não precisava de tudo aquilo.

Muita gente rica. Gente que provavelmente é muito rica, fazendo poses para fotos, mostrando suas roupas caríssimas. Riam continuamente, quase todos, como se a vida fosse uma grande festa. Talvez até fosse naquele momento. E enquanto o garçom servia taças de champagne para os convidados – não me pergunte se era francesa ou não porque eu não sei -, eu observava tudo, mesmo sem estar num canto isolado. Eu fazia parte daquilo, mesmo sem ter um puto no bolso. Ali só era preciso ter pose, dar a entender que a conta bancária estava abarrotada. Isso eu sabia fazer como muitos naquele salão.

O preço do livro fazia jus ao evento. 135 reais não é pra qualquer um, definitivamente. História cara essa da minha cidade, que segundo eles, teve muita ajuda da Prefeitura. Pena que poucos americanenses poderão adquirir a obra. Se bem que eu desconfio que ela não foi feita para os americanenses, pelo menos os de pouco dinheiro e que são a maioria.

Mas o que mais chamou a atenção é que toda aquela gente chique da cidade não aparece no livro. Contando a história através de fotografias, Juarez Godoy deve ter se esquecido de registrar a alta sociedade. O livro nos mostra pontos históricos, como as igrejas e o Casarão do Salto Grande, pessoas pulando o carnaval em diversas épocas, rodas de samba nos bares da cidade entre outras situações. Se algum rico apareceu em alguma foto, foi no meio da multidão, sendo apenas mais um naquele meio.

Mas e os jantares dessa gente que ali estava? E os cordões de ouro das mulheres chiques e enganadas? E os carros importados dos homens ditos poderosos que se escondem atrás de muros tão altos quanto os de Berlim? Nada disso está lá dentro. Até porque essa gente nunca se entregou a nada que não fosse o dinheiro.

Os ricos fazem a festa, fingem se divertir e comemoram um feito que jamais serão deles. O dinheiro deles pode comprar quase tudo – e nesse caso podemos incluir a felicidade de uma noite regada a champagne – mas jamais estarão presentes na história de uma cidade, seja ela qual for. Exceto o prefeito, que cumprimentava freneticamente quem encontrasse pela frente, mas este é por motivos óbvios.

Aposto que todos deixaram o sorriso ali, naquele salão, assim que saíram pela porta principal cheia de seguranças engravatados. E assim foram apavorados para casa, com medo de bandidos, ou entristecidos por terem a certeza de que verão suas velhas esposas como elas realmente são.

Mesmo assim foi uma noite histórica. Para um documento histórico, e não para uma gente que não tem história nenhuma pra contar.

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