sábado, 5 de fevereiro de 2011

Faz alguma falta?


Acabei de ler “Nada me faltará”, de Lourenço Mutarelli. Não quero fazer aqui uma resenha de um livro que eu achei muito bom, e sim discutir alguns conceitos e idéias que nele foram apresentados.

O livro conta a história de Paulo, um cidadão comum com seus 30 e poucos anos, que um dia sai de férias com sua família e acaba desaparecendo junto com as outras pessoas que o acompanhavam. Um ano depois, Paulo reaparece na casa da mãe, sem a mulher e a filha. O problema é que Paulo não consegue se lembrar do que aconteceu nesse período.

A história toda gira em torno desse dilema, que não é revelado no livro. Portanto, não sabemos exatamente o que aconteceu nesse período. Muitas pistas são dadas, muitas suposições são feitas, mas ninguém prova nada. Não se sabe se Paulo é vítima ou vilão da história. E diante de tanta pressão, muitas vezes ele mesmo se confunde.

Durante seu dilema, Paulo faz sessões de análise com um psicólogo e algumas questões são colocadas. Como ele não lembra desse período, ele não sente falta de nada e nem de ninguém. Pra ele, aquele período simplesmente não existiu, o que causa ira dos seus amigos e principalmente da sua mãe, que acha um absurdo o filho não sair pela cidade procurando a sua mulher e a filha.

E o dilema de não ser entendido não é apenas de Paulo. É nosso. Repare: parece que caminhamos sempre por um código de conduta pré-estabelecido, escrito sabe-se lá por quem. Temos reações prontas, para os mais variados problemas, e se por acaso fugimos desse padrão, somos taxados de frios, calculistas, insensatos entre outros adjetivos.

Temos que chorar sempre que alguém morre, lamentar a falta de pessoas que nem são tão importantes para nós, nos indignar com assuntos corriqueiros e tantas outras situações.

Por mais que a sociedade pregue a liberdade e a individualidade, não é o que vimos por aí. Qualquer atitude diferente é logo julgada, condenada.

Essa é mais uma questão controversa, que merece uma discussão mais ampla e antes de qualquer coisa uma boa dose de sinceridade. 

Como sinceridade não é algo que temos em abundância por aqui, sofremos por não saber o que realmente somos, nem o que sentimos. Apenas caminhamos conforme o caminho que nos traçaram, sem reclamar, sem nos mover como realmente queríamos. Não sei se é medo, ou preguiça de enfrentar o desconhecido, mas parece que vai ser sempre assim. Não fugiremos disso. Nem o Paulo, nem ninguém.

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